ASSOCIAÇÃO DE BIOMARCADORES E RETINOPATIA EM PACIENTES COM DIABETES ATENDIDOS EM AÇÃO SOCIAL

INTRODUÇÃO: O diabetes mellitus (DM) se caracteriza por ser uma doença com diversos mecanismos patogênicos e uma origem multifatorial. Atualmente, o DM está se tornando cada vez mais prevalente e, considerando o seu potencial para gerar graves e permanentes complicações, se torna urgente a investigação e o investimento de tempo e recursos para encontrar métodos de diagnóstico e/ou acompanhamento que permitam realizar uma avaliação dessas complicações de forma precoce e precisa. A retinopatia diabética (RD) é uma das principais complicações microvasculares do diabetes e é a principal causa de cegueira passível de ser prevenida no mundo. OBJETIVOS: Associar biomarcadores laboratoriais com a presença de retinopatia em pacientes com diabetes atendidos em ação social. MATERIAIS E MÉTODO: Amostras de soro, sangue total e fundoscopia de 90 indivíduos (n=90) com diabetes foram selecionadas dentre as 200 coletadas durante ação social, em local apropriado e reservado para tal finalidade, seguindo procedimento padrão de coleta de sangue venoso. Nas amostras obtidas, foram determinados os seguintes parâmetros séricos: glicemia venosa; glicemia capilar; ureia; creatinina; proteína total; albumina; colesterol total; HDL-c; LDL-c; triglicerídeos; proteína C-reativa; ácido úrico; e hemoglobina glicada (HbA1c). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde da UFPR (número CAAE: 97375118.6.0000.0102). RESULTADOS: Os participantes apresentaram média de idade de 55,6 anos, sendo 45,6% (41) do sexo feminino e 54,4% (49) do sexo masculino. Além disso, 61,1% dos pacientes apresentaram HbA1c maior ou igual a 7%, indicativa de controle glicêmico inadequado de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes. O mau controle da glicemia favorece o desenvolvimento de complicações microvasculares, que puderam ser mensuradas no estudo através da dosagem de creatinina (e cálculo da taxa de filtração glomerular estimada (eTFG) e de exame de fundo de olho para investigação de retinopatia. TFG abaixo de 90 mL/min/1,73m2, caracterizando estágio 2 de doença renal crônica (DRC), estava presente em 43,3% dos participantes. RD foi detectada em 50% (45) dos participantes, e 44 destes apresentavam sinais de retinopatia não proliferativa em ambos os olhos. A análise estatística dos dados envolveu a busca de relação estatisticamente significativa (valor de p < 0,05) entre a presença de RD e biomarcadores. Foi verificada associação entre a presença de RD – em qualquer estágio – e o maior tempo de DM (p = 0,028), uso de insulinoterapia (p = 0,043), maiores valores de creatinina (p = 0,028) e menores valores de albumina (p = 0,002). Os demais biomarcadores de rotina não apresentaram associação com a RD. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os resultados descritos seguem o esperado de acordo com a literatura, evidenciando que a identificação de complicações microvasculares em um foco topográfico torna o indivíduo mais propenso a apresentar distúrbios similares em outros órgãos ou sistemas, ou seja, nefropatia e a retinopatia diabéticas, ambas complicações microvasculares, podem estar correlacionadas. Além disso, os dados ratificaram a ideia de que maiores períodos de hiperglicemia favorecem o surgimento de retinopatia, já que o tempo de DM foi uma variável significativa para essa complicação.

PALAVRAS-CHAVE: Diabetes; Retinopatia; Biomarcadores; Complicações microvasculares; Controle glicêmico.