AS VIVÊNCIAS ESPIRITUAIS NAS CARTAS INDIPETAE: NARRATIVAS DA EXPERIÊNCIA MÍSTICA E DEVOCIONAL

INTRODUÇÃO: A Companhia de Jesus foi uma instituição religiosa fundada por Inácio de Loyola em 1534. Os membros desta instituição tiveram papel significativo na conversão de novos membros para o catolicismo, fundaram escolas, seminários e Universidades e dedicaram-se ao ensino, pregação e catequese como expressões de seu trabalho missionário por todo o mundo. Litterae Indipetae são as cartas que os membros desta ordem comunicavam ao Padre Geral da Companhia o seu desejo de serem enviados para o trabalho missionário nas “Índias”. Tal prática se inicia na Companhia no século XVI e se extende até o século XX e estima-se que tenham sido escritas cerca de 24 mil indipetae que se encontram no Arquivo Histórico da Cúria Geral da Companhia de Jesus em Roma.

OBJETIVOS: O objetivo geral desta pesquisa foi transcrever e analisar tais cartas manuscritas e relacioná-las com a proposta educativa e espiritual da Companhia de Jesus e o respectivo projeto de tal instituição para a Idade Moderna. Já os objetivos específicos foram três: Realizar uma revisão sistemática de literatura sobre o tema estudado; transcrever as Cartas Indipetae segundo as normas internacionais de transcrição de fontes históricas primárias e, por fim, analisar o conteúdo das respectivas cartas a partir da vivência do sagrado e da espiritualidade jesuítica. MATERIAIS E MÉTODO: Trata-se de uma pesquisa qualitativa utilizando do método histórico com o uso de fontes primárias e secundárias. Os historiadores teóricos utilizados foram Cellard e Le Golf. Estes afirmam que as correspondências são uma rica fonte histórica que, por sua vez, permitem conhecer tanto o universo pessoal dos indivíduos quanto dos grupos e da sociedade em que estes sujeitos estavam inseridos. Ao todo foram transcritas e analisadas dez cartas, escritas em português do século XVI relatando o desejo dos jovens jesuítas de serem enviados para as missões para territórios do Brasil, Índia, Japão e China. Para a realização desta tarefa, foi utilizado um modelo internacional de transcrição diplomática de documentos jesuíticos. RESULTADOS: Os principais resultados podem ser sintetizados em três fundamentais ideias: em primeiro lugar as cartas expressam a interiorização da espiritualidade inaciana por parte dos jovens europeus, em segundo lugar, permitem entender a forma como a Companhia administrava e destinava seus membros para as missões em todo o mundo e, por fim, elas revelam as vivências espirituais e místicas de jovens do século XVI e XVII. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conclui-se que o trabalho com este gênero de fonte primária da documentação jesuítica correlacionada com a perspectiva teórica de historiadores como Cellard e Le Golf levam-nos a conhecer melhor um dos grandes sistemas institucionais europeus na sua relação com o desejo pessoal e grupal dos jovens europeus de viajar e se dedicar às missões em outros continentes, aventurando-se nas viagens marítimas.

PALAVRAS-CHAVE: Litterae Indipetae; Companhia de Jesus; Transcrição diplomática; Fontes primárias