AVALIAÇÃO DE FATORES ASSOCIADOS À RABDOMIÓLISE E INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA EM ACIDENTES CROTÁLICOS NO PARANÁ

INTRODUÇÃO: Apesar de historicamente documentados, os acidentes ofídicos continuam a apresentar uma alta morbimortalidade, com milhares de casos anuais somente no estado do Paraná. As serpentes peçonhentas mais comuns no Brasil pertencem aos gêneros Bothrops, Crotalus, Lachesis e Micrurus. Entre essas, o veneno das serpentes do gênero Crotalus é especialmente perigoso, podendo causar complicações graves como rabdomiólise e insuficiência renal aguda, elevando o risco de óbito. OBJETIVOS: Analisar dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais dos acidentes com serpentes do gênero Crotalus no Paraná, identificando fatores de risco associados à rabdomiólise e à insuficiência renal aguda para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento mais eficazes. MATERIAIS E MÉTODO: O estudo é de natureza observacional, retrospectiva e transversal. Foram analisados dados de 189 prontuários de casos atendidos pelo Centro de Informações e Assistência Toxicológica do Paraná entre 2014 e 2023, dos quais 167 prontuários atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. As informações coletadas são: sexo e idade dos pacientes, localização e circunstância do acidente, identificação do animal, local da picada, tempo de deslocamento até o atendimento, detalhes da soroterapia (incluindo número de ampolas e reações ao soro), estadiamento do caso, tratamento realizado, tempo de internação, desfecho, sinais e sintomas, e valores laboratoriais (creatinina, ureia, CPK, LDH, RNI. Presença de rabdomiólise foi considerada quando valores de CPK estivessem acima de 5.000 U/L e a injúria renal aguda foi considerada presente quando valores de creatinina, tendo como base a creatinina de admissão do paciente, classificasse como estágio I, II ou III da escala internacional KDIGO. RESULTADOS: Houve predominância de pacientes do sexo masculino (84,4%) e idade média de 44,8 anos. Os acidentes ocorreram majoritariamente em áreas rurais (90,4%), com maior incidência nos municípios de Laranjeiras do Sul, Toledo e Cascavel. Observou-se uma prevalência de acidentes no verão (37,1%) e as regiões anatômicas mais afetadas foram os membros inferiores. O intervalo médio do acidente até o paciente chegar a um serviço de saúde foi de 276 minutos, já entre o acidente e o término da soroterapia específica foi 702 minutos. Reações adversas ao soro foram leves e raras, ocorrendo em 2,4% dos pacientes. Dentre todos os casos, 3% resultaram em óbito com tempo médio para esse desfecho de 13,4 dias. Os agravantes para os óbitos foram injúria renal aguda, demora e/ou não realização do tratamento específico. Da amostra 39 desenvolveram rabdomiólise e 14 apresentaram insuficiência renal aguda. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A análise revelou que se correlacionaram com a rabdomiólise: a presença de injúria renal aguda e o tempo decorrido entre o acidente e o final da soroterapia. Da mesma forma, apresentar rabdomiólise se correlacionou com a presença de injúria renal aguda. Em relação ao estadiamento inicial de gravidade do acidente crotálico, foi constatado que classificações mais graves foram vistas principalmente em pacientes com maiores valores de CPK na admissão. O valor de corte de CPK para ocorrer injúria renal em acidentes crotálicos desta amostra foi de 579 U/L.

PALAVRAS-CHAVE: 1. Crotalus; 2. Animais Peçonhentos; 3. Injúria Renal Aguda; 4. Rabdomiólise; 5 Creatinofosfoquinase.