INTRODUÇÃO: No final de 2019 a infecção pelo SARS-CoV-2 foi verificada. Devido ao crescente número de complicações e de óbitos relacionados ao COVID-19, procedimentos eletivos foram cancelados, havendo a conversão de salas cirúrgicas em leitos de unidade de terapia intensiva. – OBJETIVOS: Avaliar as influências da pandemia COVID-19 sobre o tempo cirúrgico das apendicectomias não eletivas e as complicações peri e pós-operatórias imediatas. – MATERIAIS E MÉTODO: Foi realizado estudo observacional retrospectivo, através da análise de 159 prontuários de pacientes submetidos à apendicectomia no Hospital Universitário Cajuru. Destes 79 foram atendidos no período pré-pandemia (em 2018 e 2019) e 80 foram atendidos durante a pandemia (em 2020 e 2021). Testes estatísticos avaliaram significância das alterações encontradas. – RESULTADOS: A doença foi mais prevalente no adulto jovem com mediana de 27,1 anos (pré-pandemia) e 29 anos (pandemia) (p=0,515). Todos os pacientes no período observado foram admitidos sintomáticos. Dentre os sintomas apresentados, o principal foi dor em 158 (99,4%) dos casos. A contagem de leucócitos, bastonetes e dosagem de proteína C reativa (PCR) foi maior na pandemia, quando comparado ao período pré-pandemia (p=0,004). Foram observadas 47 (60,3%) apendicectomias abertas no período pré-pandemia contra 29 (36,3%) no período pandêmico, e 31 (39,7%) videolaparoscópicas contra 51 (63,8%) (p=0,004). Quanto ao tempo cirúrgico, foi observado tempo de 1,1 hora na pré-pandemia contra 1,4 hora na pandemia (p=0,004). Ocorreu um aumento de apendicites grau 3 na pandemia 17 (27,9%), quando comparado ao período pré-pandemia 9 (14,8%). Entre os achados cirúrgicos intraoperatórios a presença de apêndice edemaciado obteve relevância estatística (p = 0,018). Houve maior prevalência de apêndice edemaciado durante a pandemia 34 (42,5%), contra 19 (24,1%) no período de pré-pandemia analisado. Dentre as complicações pós-operatórias, a dor foi a mais prevalente durante o período pré-pandemia, presente em 32,9% dos pacientes, contra 10% durante a pandemia (p<0,001). O laudo anatomopatológico demonstrou um aumento do número de apendicites gangrenadas, com 5 (7,2%) pré-pandemia, contra 8 (16,7%) no período de pandemia. O uso de antibióticos no pós-operatório e o tempo de internamento (total em dias) não obtiveram relevância estatística. – CONSIDERAÇÕES FINAIS: O tempo cirúrgico durante a pandemia foi significativamente maior. O grupo de pacientes da pandemia apresentou maiores valores de PCR e maior proporção de apêndices edemaciados e cirurgias realizadas por via videolaparoscópica. Com exceção da dor, as complicações pós-operatórias imediatas não tiveram relevância significativa entre os períodos analisados. A pesquisa contribuiu para melhor compreensão das repercussões da pandemia COVID-19, estimulando adoção de estratégias que possam otimizar o tempo cirúrgico e prevenção de possíveis complicações associadas em futuras crises mundiais de saúde pública.