INTRODUÇÃO: Com o aumento do desmatamento ilegal no Brasil, as forças de segurança pública têm adotado novas tecnologias com a finalidade de otimizar fiscalização ambiental. Dentre essas novas tecnologias, se destacou a adoção de nanosatélites espaciais de alta resolução para monitoramento diário da cobertura florestal e sensoriamento remoto. O uso dos nanosatélites, apresentados pelo possibilitou a maior apreensão de madeira ilegal da história do Brasil. – OBJETIVOS: Analisar como a adoção dessas novas tecnologias da informação impactaram nos mecanismos de comando e controle da extração ilegal de madeira na Amazônia brasileira a partir da análise das operações Arquimedes e Handroanthus-GLO, articulando esses mecanismos com os conceitos de “panóptico” e “dataficação” do meio ambiente e, ainda, descrevendo como funciona o mercado madeireiro ilegal, as relações entre o mercado madeireiro e a violência no campo, os índices de violência e as repercussões das operações no poder judiciário. – MATERIAIS E MÉTODO: O desenvolvimento da pesquisa foi feito a partir de revisão bibliográfica e documental de produções acadêmicas, documentos jornalísticos, análises de processos judiciais e relatórios de organizações da sociedade civil que atuam na área de direitos humanos e meio ambiente no Brasil. – RESULTADOS: foi possível delinear o funcionamento do mercado ilegal e os agentes envolvidos em cada etapa do processo: da coleta da madeira ilegal às fraudes documentais que possibilitam o transporte e exportação da madeira ilegal como se lícita fosse. A análise dos mercado madeireiro ilegal revelou que a violência é componente indissociável da complexa teia de ilegalidades que permeia o mercado ilegal de madeira na Amazônia brasileira, e que os nanosatélites, embora representem avanço nas políticas de comando e controle da Amazônia, não respondem suficientemente bem aos conflitos que compõem a cadeia delituosa do mercado madeireiro. – CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar dos nanosatélites possibilitarem formas mais eficientes de controle na Amazônia, com economia de tempo e maior área passível de monitoramento diário, os mercados ilegais são complexos, envolvem múltiplos agentes e provocam diversos tipos de dano. Até o presente momento o uso dos satélites se mostrou eficiente apenas em uma das faces da rede de ilegalidades do mercado ilegal, sendo insuficiente, no entanto, nas relações conflituosas entre os diversos indivíduos que convivem na floresta, revelando que a apresentação dos novos mecanismos pelos agentes públicos como “revolucionários” ou como uma radical mudança no desmatamento da Amazônia é precipitada ou exageradamente otimista, e que a adoção dos novos mecanismos não encerrou o ciclo de impunidade que compõe o desmatamento ilegal no Brasil.