INTRODUÇÃO: O início da filosofia ocidental se confunde com a gênese da medicina no Ocidente, o que inclui a própria mutação do conceito de medicina – dos idos hipocráticos à contemporaneidade – bem como, em especial, a caracterização da relação médico e paciente. A compreensão da deliberação, incutida de tal forma nos textos aristotélicos foi, por longos séculos, o fio de Ariadne daquilo que viria a ser a moderna anamnese. O filósofo alemão Hans Jonas pensou esse problema, em especial com a sua preocupação em torno da relação entre tecnologia e responsabilidade do médico em relação ao paciente. – OBJETIVOS: Analisar os desafios impostos pela tecnologia na relação médico e paciente, levando em conta os fundamentos da ética da responsabilidade desenvolvida por Hans Jonas. – MATERIAIS E MÉTODO: A pesquisa se realiza na forma bibliográfica, com especial atenção às duas obras de Hans Jonas que tratam do assunto: “O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica” (1979) e “Técnica, medicina e ética: sobre a prática do princípio responsabilidade” (1985). Além disso, são consultados livros de comentadores e intérpretes da obra do autor. – RESULTADOS: O desejo apoteótico da superação via tecnológia nos leva a observar a instauração de uma ethos tecnológica – um processo de superação do Homo faber, como apresentado por Jonas, em sua história. O desejo da transcendencia apoteótica transhumanista tem repercussões direta nas ciencias médicas – aos quais já foram pervertidas por toda a sorte de ideologias de singular darwinismo social. A teia da problematica apresentada se amplia quando observamos os niveis de técnicas artificais e invasivas nos últimos anos. Nitidamente, o advento de mecanismos de substituição artificial dos sistemas humanos – como nos marcapassos e nos sistemas de oxigenação por membrana extracorporal – geram uma distopia distanásica sem precendentes na humanidade. Entretanto, não apenas os mecanismos criados para fins do prolongamento da vida (mesmo quando a ausencia da vida digna), criou – se um fetichismo impar das capacidades ilimitadas da tecnologia sobre a vida humana. Tal fetichismo é apresentado ao ser humano, ano após ano, de maneira mais precoce – principalmente ao que se refere o cerne da formação de médicos. – CONSIDERAÇÕES FINAIS: Hans Jonas oferece algumas pistas para pensar o problema da relação médico e paciente a partir da responsabilidade, reconhecida por ele como premissa e pilar das relações inter-humanas e extra-humanas. Inerente à aplicação desses conceitos, estão os valores da justiça, da bondade e da lealdade, que necessitam de mecanismos intrínsecos para a sua execução – mecanismos geridos pelos processos comunicativos (tendo-se em conta que, historicamente, a coerção tem sido um mecanismo extrínseco dessa comunicação).